quarta-feira, 3 de março de 2010

Método auxilia na educação de crianças em situação de risco

Reforçando um pouquinho o que fala o "post" anterior, de que o diálogo é o melhor caminho para se educar alguém, venho complementar a ideia com a reportagem abaixo:

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A técnica será adotada, a partir deste mês de agosto, em 147 colégios municipais do Rio de Janeiro em zonas de risco social, e estimula o cérebro dos alunos com muita conversa e alternância de atividades.

O trauma da ameaça constante das crianças que vivem em zonas de risco se reflete nas salas de aula. Elas têm dificuldades de aprender, de memorizar, de se concentrar.

São meninos e meninas com um grande histórico de perdas: de familiares, colegas, vizinhos. Aulas tradicionais não conseguem convencê-los de que é importante estudar, até para se defender melhor na vida. Prova disso é que é o analfabetismo funcional, alunos que mal entendem o que está escrito e tampouco escrevem direito, é maior nessas áreas. Chega a 19.2%, enquanto a média da rede pública é de 14.6%.

A boa nova é que métodos especiais conseguem vencer o trauma. A artista plástica carioca Yvone Bezerra de Mello, conhecida por realizar trabalhos solidários com crianças e adolescentes em situação de rua, criou uma metodologia de ensino para quem ficou traumatizado por troca de tiros, agressões físicas, abandono e privações. A técnica será adotada, a partir de agosto , em 147 colégios municipais do Rio de Janeiro em zonas de risco. “Nosso objetivo é melhorar o aproveitamento das crianças”, diz a secretária municipal de Educação, Cláudia Costin. “Conheci o trabalho da Yvone ao pesquisar métodos de ensino alternativos no Brasil e o sistema dela se mostrou o mais adequado “, declarou.

O que será feito na rede municipal carioca foi testado no projeto Uerê, que Yvone, doutora em políticas públicas e direitos humanos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Loyola University, de Chicago, coordena desde 1998 e que atende estudantes com problemas de aprendizado na favela da Maré. “As experiências vão se acumulando na cabeça dessas crianças como se fosse uma lata de lixo, impedindo que o cérebro funcione normalmente”, afirma a pesquisadora. A metodologia já foi testada, inclusive fora do Brasil, em zonas de conflito na África. Por conta dos resultados, Yvone recebeu o Prêmio Paz no Mundo e Cidadania, da União Européia, em 2007.

O método

Há casos de jovens que chegam ao Uerê tomando remédios para problemas neurológicos ou psiquiátricos. “Infelizmente, é comum que os professores façam esses diagnósticos “, diz a psicóloga escolar Vera Lúcia Trindade, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Falta de concentração, dificuldade de memorização, irritabilidade, agressividade, problemas de audição e dores pelo corpo são alguns dos sinais apresentados por crianças que vivem em áreas de risco. A nova metodologia estimula o cérebro dos alunos com muita conversa e alternância de atividades. A aula começa com um bate-papo. Os alunos falam sobre as coisas boas e ruins do dia anterior, afastando as más lembranças e liberando a cabeça para o aprendizado. O tema da violência aparece com frequência. O quadro-negro quase não é usado, e o conteúdo é transmitido oralmente, como se o educador estivesse contando uma história. Cada aula não dura mais de 30 minutos. “É possível abrir mão de detalhes, mas ter certeza de que as crianças vão absorver o conhecimento”, argumenta.

Os alunos só escrevem na hora de resolver exercícios em sala de aula. Não há dever de casa. A implementação do novo método será feia aos poucos. “Será a primeira aplicação da metodologia em larga escala e esperamos melhorar o aproveitamento dessas crianças”, conclui a secretária municipal Cláudia Costin.

[Revista Istoé, Adriana Prado – 29/07/2009]